segunda-feira, 12 de abril de 2010

Diferença de gênero, por Mariana Pedrosa

Estavam no carro, lado a lado. Ele, impaciente e com suor no rosto, apertava a buzina como se aquele fosse o dedo da mãe de uma criança que acaba de descobrir o que é o apertar. Ela, atrapalhada como sempre, tinha a bolsa já aberta no chão do automóvel. Seus cadernos estavam apoiados em suas pernas cobertos por uma toalha.

Ali ela tentava pintar as unhas. Sim, pintar as unhas em um carro em movimento. Nem tanto movimento assim. A rua era estreita e o sinal estava fechado. A distância de um carro para outro era certa para a lei.

Os dois permaneciam em silêncio absoluto. Não estavam brigados ou chateados um com o outro. O silêncio provinha da distração: ele pensava em como o trânsito estava parado e em como aquilo o deixava irritado. Ela cantarolava mentalmente uma canção que aprendera mais cedo.

O sinal continuava fechado. O semblante dela estava calmo, quase expressava uma felicidade por estar a um triz de finalizar uma tarefa que, aos seus olhos, nada tinha de fútil. O semblante dele estava cada vez mais irritado, principalmente quando sentia que o suor escorria por sua testa, descia pelos seus olhos e finalizava em seu pescoço.

Finalmente o sinal abriu. Ela nada percebeu além de seu perfeito trabalho com as unhas. Ele exibia um meio sorriso de quase satisfação por sair daquele mormaço com o vento que entraria pela janela. O carro da frente freou bruscamente. Pela distância, ele conseguiu frear. Infelizmente, o carro de trás bateu. Ele se espantou e abaixou a cabeça sobre o volante. Ela arregalou os olhos e saiu do carro:

- Filho d’uma puta! Borrou minha unha!


Mariana Pedrosa,





Postado por Natascha Abreu

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